sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Políticas docentes no Brasil, um documento escrito a seis mãos:


Em setembro de 2011, foi elaborado um documento da Unesco  e do MEC, a respeito das políticas docentes no Brasil, as autoras, Bernadete Angelina Gatti, Elba Siqueira de Sá e Marli Elza Damazo de Afonso André, especialistas em educação, traçaram o perfil docente através das políticas públicas desenvolvidas no país. 
Elas iniciam o texto mostrando o quanto é importante essa área para a sociedade. As pessoas, de um modo geral, a valorizam e a enxergam como sendo de suma importância. Contudo, a maneira como os governos a encaram é que demonstra o valor que de fato um país (em toda a sua divisão política) dá a ela. Isso, porque analisando como se implementam suas políticas, seu financiamento, seu gerenciamento, etc tem-se a exata noção se essa área é de fato valorizada. Elas mostram o conceito de "governos da educação", utilizado por Tedesco em 2010, para tratar do modo como os governos tem tratado a Educação, em alguns casos, a utilizando como marca de governo. Adiante, as autoras refletem se há de fato uma integração entre as politicas educacionais em todas as suas esferas (federal, estadual e municipal). 
Há uma reflexão sobre o caráter democrático dos governos latino americanos, que recém-saídos de ditaduras, mesmo na democracia não atingiram o grau de maturidade necessário para lidar com as questões educacionais. Muitos continuam com estruturas muito semelhantes aos velhos tempos.
Diante dessas questões (e de muitas outras que são analisadas em gráficos e tabelas), as autoras lançam o olhar sobre o professor. Profissional de extrema relevância na condução da instrução da sociedade, tem sido tido dificuldades na formação inicial, na continuada, recebendo baixos salários e tendo planos de carreira nada estimulantes muitas vezes. Isso tem se refletindo na procura de muitos em se especializar na área da Educação, tendo o professor como objeto de investigação.
Especificamente a respeito da docência, as autoras citam autores europeus que analisam essas questões em seu continente, chamando a atenção para os aspecto sócio-políticos e históricos. Todos eles falam da necessidade de se atrair, capacitar e conservar docentes eficientes. O que esses estudiosos demonstram que a carreira docente:

  1. tem atraído muito poucos talentos, já que tem se mostrado uma carreira pouco atrativa;
  2. diversos países tem diminuído seus investimentos na área;
  3. necessidade de proporcionar formação continuada;
  4. melhoria nos critérios de seleção desses profissionais;
  5. apoio aos ingressantes na carreira.


Por outro lado, esses mesmos estudiosos citados pelas autoras, apontam como caminhos adotados por esses mesmos países europeus, a preocupação com a qualidade e não com a quantidade na Educação. Para que isso ocorra, é preciso melhorar os critérios de seleção de professores, tanto no ingresso, como ao longo da carreira, promovendo formação e avaliação continuas, para tanto, é necessário que o professor tenha um novo perfil, que se adeque ao trabalho em equipe, tenha mais conhecimento pedagógico, e, sobretudo, tenha uma escola mais autônoma e descentralizada do professorado à gestão. Para se atingir tal objetivo, é necessário:

  1. estudar as novas competências que o professorado deve adquirir na sociedade atual.
  2. tornar a profissão mais atrativa, seja na entrada, seja no seu percurso, para reduzir a escassez de professores em muitos países (melhorar o salário, a imagem e o prestígio social, a carga de trabalho, a segurança no trabalho e a carreira).
  3. tornar a instituição educativa mais autônoma, mais responsável pela sua gestão pedagógica,  organizativa e de pessoal.


Voltando à analise da América Latina, estudiosos afirmam que no continente:


  1. estudar as novas competências que o professorado deve adquirir na sociedade atual.
  2. tornar a profissão mais atrativa, seja na entrada, seja no seu percurso, para reduzir a escassez de professores em muitos países (melhorar o salário, a imagem e o prestígio social, a carga de trabalho, a segurança no trabalho e a carreira).
  3. tornar a instituição educativa mais autônoma, mais responsável pela sua gestão pedagógica, organizativa e de pessoal.

Nesse caso, os motivos apontados estão no fato de o magistério ser uma carreira mais voltada às mulheres. O que faz com que muitos governos latino-americanos a desprezem. Acrescenta-se a isso, o fato de atrair pessoas jovens e inexperientes. Nos estudos, as autoras identificaram que em diversos países, há de fato uma politica voltada para a Educação, porém, quanto mais complexa ela for, mais difícil será a sua implementação. No caso do Brasil, se não ficarem claras as regras de implementações dessas políticas, as metas e objetivos não serão cumpridos.
Para uma politica educacional ser bem sucedida é necessário que haja a adesão dos docentes a ela. Caso contrário, não se obtém exito. As avaliações externas, tem como finalidade garantir ao alunado o direito de aprender. Porém, é notório que os sistemas educacionais não tenham atingido os objetivos por conta da própria falta de estrutura do sistema. Contudo, nos últimos anos, a federação em todos os seus níveis tem tido preocupação com essa área e tem buscado implementar politicas que vão das avaliações à formação de docentes. Já é um grande avanço.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A escola e o conhecimento na análise de Mário Sérgio Cortella:


Nos últimos anos, a mídia tem dado espaço a um filósofo que comenta, orienta e reflete diversos assuntos da contemporaneidade. Temas diversos são abordados, seja em entrevistas ou em comentários promovidos em jornais televisivos. Essa figura tão importante é Mário Sérgio Cortella, filósofo e escritor paranense que nos faz entender e pensar sobre muitas coisas.
Em seu livro "A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos", ele discorre sobre a crise da educação, crise essa que existe desde que a república foi implantada. Mas, de fato a crise se instalou quando a partir de 1964 (em tempos de ditadura militar), o país se abriu de fato ao capitalismo industrial, deixando de ser rural, tornando-se urbano e tendo as estruturas sociais ainda mais precarizadas. 
Como é de se esperar, saúde e educação foram as áreas que mais sofreram com as mudanças nas configurações da sociedade no pós-64. Tendo a necessidade de capacitar pessoas para trabalharem na indústria (e servirem ao capital), a Educação perdeu sua qualidade, já que muitas pessoas foram inseridas no sistema, tendo ele continuado o mesmo. Resultado: falta de estrutura, baixa qualidade na formação dos professores que passaram a ter seus salários diminuídos e as jornadas aumentadas, tendo consequentemente menos tempo de preparação das aulas. Até esses profissionais foram incorporados ao sistema de qualquer maneira.
Evidentemente, o sistema inchado, decaiu em qualidade. A excessiva quantidade de pessoas numa escola que não estava preparada para ela, não poderia gerar outra coisa senão a má qualidade. Para Cortella, esse dilema tem que ser resolvido pensando na equação quantidade e qualidade, gerando assim a democratização do acesso e da permanência. Um conceito por ele abordado, o apartheid social, ou seja, as escolas públicas de má qualidade geram as escolas privadas de boa qualidade e assim, os alunos oriundos das primeiras, tem seu destino praticamente traçado.
O grande desafio da Educação contemporânea, visto as causas da crise, é elevar a quantidade, mesmo com toda a quantidade que há no sistema. Cortella fala da necessidade de haver uma nova qualidade para uma nova escola, posto que a sociedade nascente (pós-ditadura) passa a exigir Educação como um dos aspectos da cidadania. Com a chegada dos trabalhadores nos bancos escolares, os desafios são outros. A própria Pedagogia pensada na academia torna-se insuficiente, muitas vezes. Outro conceito por ele abordado, o social darwinismo,  refere-se ao grande contingente de adultos analfabetos que simplesmente é ignorado pela Educação oficial ou é atendido de qualquer modo.
O autor ressalta a necessidade de se repensar a relação professor-aluno sob o viés da democratização, que deve ser estendida entre os pares e a própria gestão, gerando assim, a democratização do saber. Essa deve ser a busca e a razão de ser da Educação da classe trabalhadora, para que haja uma sólida base científica, formação crítica de cidadania e solidariedade de classe. Tais polos unidos, devem convergir para que os alunos possam ser donos do próprio conhecimento e livres na construção do saber, com professores que os estimulem e não imponha sobre si as suas vontades e autoritarismo, longe do pragmatismo que entende a educação da classe trabalhadora apenas como o ensino do oficio. Essa escola deve despertar principalmente, a cidadania, levando-os a entender e ter atitudes que visem transformá-la através dos interesses da maioria social.
Para se alcançar tais objetivos, é necessário que a nova qualidade social seja alcançada por uma reorientação curricular que leve em consideração a realidade dos alunos, levando-se em conta a riqueza e a diversidade cultural, mas dando-lhe uma orientação formal e científica. É preciso uma análise que vise observar aspectos políticos e epistemológicos do interior das escolas, para que os educadores não percam de vista o sentido concreto dessa sua ação.
Enfim, Mário Sérgio Cortella propõe repensar a Educação sob o viés da crise pelo qual ela passa, apontando caminhos que passam pela realidade cotidiana e não apenas pelas teorias que se esvaziam a medida que os teóricos se distanciam do chão onde a classe trabalhadora pisa.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Luiz Carlos de Freitas e a eliminação adiada:


Entre os autores de educação na contemporaneidade, um nome recentemente vem se destacando. Trata-se de Luiz Carlos de Freitas, doutor em Educação pela Unicamp que tem feito textos e análises bastante relevantes, matéria obrigatória a ser estudada para os concursos e que servem para a reflexão da prática docente no que se refere à avaliação. Sua abordagem se dá refletindo a cerca dos modos avaliativos presentes nas políticas educacionais (liberais) de FHC e Lula.
Em seu texto "Eliminação adiada: o ocaso das classes populares no interior da escola e da ocultação da (má) qualidade do ensino", o autor analisa as recentes mudanças ocorridas na educação e aponta que a esperança depositada no governo Lula no tocante a mudanças de percurso, no que se refere à educação, na prática convergiram para o mesmo projeto liberal de seu antecessor, FHC. A caminhada rumo a privatização do público e responsabilização por parte dos profissionais é a mesma.
Se o ensino superior as avaliações parecem caminhar no rumo certo, o mesmo não acontece com o ensino fundamental, que tem na Prova Brasil um mundo de incertezas. Neste caso, a avaliação promovida em parceria com estados e municípios tem muito mais interesse em prestar contas a sociedade, que de fato promover a melhoria no ensino.
Freitas afirma que os problemas da educação básica são fruto do projeto liberal hegemônico e ideológico. Se por um lado tais governos promoveram a universalização do ensino, por outro, o fizeram tendo como discurso a meritocracia e o empreendedorismo pessoal, ou seja, a igualdade é de acesso e de oportunidades, não de resultados. Ou seja, o sucesso depende unicamente de a pessoa se esforçar para tê-lo não lhe é garantido pelo Estado, por exemplo. Em sua análise, o autor busca conceitos de Marx (acumulação primitiva) e Bordier (ethos) para explicar que na realidade, eles não se aplicam a no sistema educacional brasileiro da contemporaneidade justamente por serem opostos ao que prega o liberalismo.
Se por um lado, o sistema nunca aceitará de fato sua real posição com relação a ideologia educacional, para não aceitar que de fato há desigualdades e mazelas diversas na sociedade, por outro, é visível e notório que esse projeto é falho. A progressão continuada, por exemplo, diminuiu os índices de repetência e evasão escolar, mas, na prática não tem aumentado o aprendizado dos alunos. Não reprovar não significa um aprendizado melhor.
O ocaso da educação, na analise de Luiz Carlos de Freitas é a saída dos alunos das escolas, seja por progressão continuada, aceleração, eja, etc. Os alunos saem das escolas, mas não preparados para enfrentar a vida. Tem seus estudos concluídos, para serem retidos mais adiante, nas seleções de empregos, nos processos seletivos, etc. As avaliações, são para responsabilizar os profissionais de educação pelo fracasso escolar e não o sistema. 
Freitas compara, assim, os sistemas de avaliação brasileiros aos empregados por políticas estado-unidenses da Era Bush e inglesas, Margareth Thather, por exemplo. A divulgação dos resultados das avaliações, além de responsabilizar as escolas, criou nesses países criou a politica dos “vouchers” - onde o governo paga para os pais colocarem os filhos em escolas melhores - transformando a educação em mercadoria.
Na Inglaterra e nos Estados Unidos, esse processo culminou com a feitura de um mercado capaz de solucionar o fracasso escolar. No Brasil esse processo vem avançando ano a ano, com empresas (ou institutos) que se dizem capazes de solucionar os problemas que geram o baixo aprendizado e assim por diante.
O fato é que de nada adianta se gastar milhões com empresas ou institutos que venham a "qualificar" a Educação, se não houver políticas que sanem as desigualdades sociais. O que gera o fracasso escolar é uma série de fatores somados que geram as desigualdades sociais e impedem o aprendizado efetivo por parte dos alunos. Escolas sem a estrutura adequada, com salas superlotadas, por exemplo. Entregar as escolas a lógica mercadológica não resolverá o problema, se de fato as estruturas continuarem as mesmas e o próprio INEP conhece essa realidade.
A meritocracia mascara o que existe realmente, ou seja, desigualdades sociais que geram dificuldade na implementação dos projetos pedagógicos. Essa linha gera uma serie e consequências positivas que podem ser bem aproveitadas pelo pensamento liberal.
Adiante, Freitas discorre sobre o conceito (por ele elaborado no inicio dos anos 90) de "eliminação adiada" ou seja, se o aluno não reprova na escola e ele não possui as condições avançadas de conhecimento, em algum momento da vida isso ocorrerá. É a exclusão sob uma nova forma. Sendo assim, as avaliações externas tornam-se cada vez mais excludentes, a medida em que medem o global, a média e não o individual. O aluno, continua solitário em meio as suas dificuldades e se estiver em uma turma com bom desempenho passará despercebido, se sua turma não for das melhores, também pouco poderá evoluir. Essas avaliações institucionais tem esvaziado o verdadeiro propósito que é medir conhecimentos e dificuldades dos alunos, para medir o sistema.
Responsabilizar o professor não significa acabar com as dificuldades do ensino. Isso é uma volta a visão da ditadura militar, que impunha uma estrutura verticalizada. Está aí a origem do tecnicismo e de equívocos que se fazem presentes até a atualidade.
Além disso, responsabilizar a escola gera a possibilidade de privatizar para resolver os problemas e cria uma outra estrutura em cima da já existente. Aquela que virá para solucionar o fracasso. Com isso, as pessoas em geral esquecerão as raízes de tudo. É evidente que as escolas falham, mas as politicas públicas também o fazem. 
Enfim, a visão de Luiz Carlos de Freitas está mais próxima a realidade de quem pisa no chão das escolas, do que dos teóricos, o mais importante é que em sua análise estão contidos muitos anos de estudo e grande embasamento teórico e filosófico.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Paulo Freire e sua pedagogia da autonomia:


Em se tratando de Educação Brasileira, um nome que sempre é lembrado é o nome de Paulo Freire, educador pernambucano que viveu no século XX e desenvolveu uma teoria educacional voltada à libertação. Seu trabalho se deu em torno da alfabetização de jovens e adultos. Compreensível esse seu interesse, num Brasil onde grande parte da população em idade economicamente ativa se encontrava analfabeta.
O último livro de Paulo Freire, intitulado de Pedagogia da Autonomia, versa sobre uma profunda reflexão proposta pelo autor ao professorado a respeito da autonomia que deve ser dada ao educando em situação de aprendizagem. Para Freire, a Educação tem a função de libertar o individuo, dando-lhe portanto, autonomia. Autonomia de pensar, agir e protagonizar sua História. 
No primeiro capítulo, o educador abre os trabalhos refletindo que não há docente sem discente, ou seja, o que dá sentido à carreira do professor é o aluno. Essa relação, no entanto, deve se dar pautada na crítica, o autor sintetiza seu pensamento ao dizer que "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção".Em outras palavras, ele diz que o ato de ensinar não se reduz a despejar conhecimento sobre os alunos, ao contrário, é mostrar aos mesmos o caminho que aponte aonde está o conhecimento.
Adiante, ele diz que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender, é uma relação onde há uma troca, não é feita de superior ou inferior, e sim de iguais, pois ambos são aprendizes. Na visão paulo-freiriana, a educação deve ser democrática. Ensinar-aprender gera a experiencia educacional em toda a sua plenitude. Contudo, ser democrático significa levar o educando a se colocar na posição de submisso, reforçando sua crítica e sua curiosidade. Deve-se levar uma problematização que gere um desafio a ser superado. O autor afirma que essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Isso produz a construção e reconstrução do conhecimento continuamente. 
Muito mais que conteúdos formais, o educador deve ensinar o educando a pensar certo. Sendo assim, não dá pra pensar numa Educação pautada na memorização, é preciso estabelecer relações entre o campo das idéias e o que de fato acontece no cotidiano. O professor precisa ser desafiador e, além disso, sair do mecanicismo da reprodução de produção acadêmica para a realidade, para lidar com a vida real. É necessário que o educador pense certo. E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas. Pensar certo, permite ao educando se enxergar como ser histórico, mais que isso, seu protagonista. 
Por fim, ele chama essa complexa relação de "dodiscência". Professor e aluno, ou nas palavras dele, educador e educando, se complementam e se necessitam para existir (realidade esta inegável).
Adiante, Paulo Freire diz da importância da pesquisa no processo aprendizagem: Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Isso se dá porque quem pesquisa o faz porque possui uma dúvida, quer de fato aprender.
Por fim, a Educação proposta por Paulo Freire é libertadora, que dê autonomia ao educando para que de posse do conhecimento ele possa agir na vida e não apenas se restringindo às formalidades da escola. O educador deve instigar, incentivar e provocar o outro a querer saber mais. Na visão paulo-freiriana, é uma relação de troca onde um não faz sentido sem o outro.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Edgar Morin e seus sete saberes necessários à Educação do Futuro:


A Educação tem sido o desafio de muitos pensadores na Era Contemporânea. No século XX, tempo de grandes turbulências, dadas as circunstancias politicas ocasionadas pela Primeira e Segunda Guerra Mundiais, que geraram uma nova configuração no campo social, político e econômico, não foi diferente. Além disso, houve a Guerra Fria que também trouxe muitas incertezas.
Para pensar a respeito da Educação, muitos pedagogos, filósofos, sociólogos, historiadores, entre outros, elaboraram pensamentos que chegaram até os nossos dias com tamanha força, que até hoje vem sendo discutidos no mundo acadêmico. Um desses pensadores que estabeleceu um importante pensamento a respeito da Educação e seu sistema, foi Edgar Morin, francês, intelectual com longa experiencia na carreira voltada às Ciências Humanas, que elaborou estudos voltados à epistemologia, ou seja, ao estudo das origens, métodos e da própria validade do conhecimento.
Se Morin se preocupava em entender a educação sob o viés da epistemologia, evidentemente, como fazê-lo em uma sociedade tão complexa como a ocidental, pós-moderna?  
Em seu livro, já na apresentação, o autor revela que os sete saberes, são na realidade, sete pontos esquecidos pelos governos em geral, são sete lacunas ou sete buracos negros. Ele os enumera e apresenta assim sua visão filosófica, na qual, em linhas gerais, propõe um ensino voltado para a interdisciplinaridade. Os sete saberes ficam assim elencados:

1. Conhecimento: embora seja esse o objetivo da educação, pouco se diz a seu respeito, o que é, o que significa. Conhecimento traz consigo erros e ilusões. Não é um espelho da realidade, ao contrário, é tradução de alguém, algo que vai sendo re-construído. 

2. Conhecimento pertinente: embora as disciplinas sejam importantes, todas elas se ligam de alguma forma, porém, nem sempre isso é perceptível. Se as disciplinas são visíveis, suas conexões são invisíveis. É preciso destacar a conexão entre elas e contextualizar os estudos, os dados, os conhecimentos, enfim. "Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes".

3. Identidade humana: os cursos escolares esquecem do principal, a reflexão sobre quem somos nós. O homem é visto sob o ponto de vista de diversas ciências (biologia, psicologia, história, etc.), no entanto, não se procura decifrar a realidade humana. O individuo vive em sociedade (e a sociedade dentro dele), mas, o homem é uma espécie (homo sapiens). A essa relação, Morin deu o nome de realidade humana trinitária. O homem possui diversas dimensões: racional, jogador, ludens, economicus e mitologicus.

4. Compreensão humana: embora a compreensão seja fundamental em nossas vidas, não a ensinam na escola. Compreensão significa unir diversos elementos numa unica explicação. Para compreender, o homem usa toda a sua gama de experiencias. Os inimigos da compreensão são o individualismo, o egoísmo e assim por diante. O que gera a incompreensão é achar o outro inferior, a visão unilateral. a falta de inteligência da complexidade humana.

5. Incerteza: a escola transmite conhecimentos provados, aparentemente prontos, cheios de certeza. Contudo, até as ciências mais exatas possuem suas dúvidas, na natureza, as catástrofes demonstram que nem tudo ocorre como o esperado. Existe o imprevisível, porém, nem sempre ele é negativo, ele pode gerar a coragem que leva a superação.

6. Condição planetária: a conexão entre todos os países do mundo, hoje ela é chamada de globalização, mas esse processo teve inicio lá no século XVI com a colonização da América. Não apenas os homens estão conectados, mas as tecnologias, as informações e assim por diante. A expansão mundial e a conectividade, no entanto, não tem conseguido impedir que o homem degrade o seu habitat, o planeta onde vive. É necessário conscientizar da importância de cuidar do planeta.

7. Antropo-ético: reflexão a cerca dos problemas de moral e ética que embora sejam diferentes entre as culturas, existem em todas elas. Democracia nunca é absoluta. Transmitir a consciência social leva a cidadania e o individuo a exercer sua responsabilidade (social). As OnGs desenvolvem essa responsabilidade social. 

A intenção de Edgar Morin ao escrever sobre os sete saberes, não foi mudar os programas ou currículos educacionais. Ao contrario, ele pretendia que esses saberes fossem incorporados às estruturas já existentes, produzindo assim uma reflexão importante: em que mundo vivemos e quais heranças iremos deixar. Os sete saberes são fruto de uma educação que se conecta, contextualiza, insere valores humanos e procura entender o homem em toda a sua essência
.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O trabalho na moderna sociedade capitalista na visão de Marx e Durkhein:

O tema trabalho levou a elaboração de grandes teorias, sobretudo nos séculos XIX e XX, não sendo esse tema abandonado em nossos dias. Uma das teorias mais complexas a esse respeito é o marxismo. Para Karl Marx a divisão social do trabalho se realiza no processo de desenvolvimento das sociedades. A divisão social do trabalho é geradora da divisão de classes. Sendo assim, fica compreensível o fato de os trabalhadores se relacionarem sempre com seus pares. Dificilmente um executivo será amigo de um faxineiro, por exemplo.
Marx afirmava que no trabalho, a relação era de iguais. Se o empresários possuía as máquinas, por sua vez, o trabalhador tinha o domínio entre elas. Contudo, na prática, o economista sabia que não era bem assim. O detentor dos meios de produção (o patrão), predominava sobre o operário, que necessitava operar as máquinas para receber seu salário.
Na teoria marxista foi elaborado um conceito muito importante: a mais valia, segundo o qual, está definida a maneira como o patrão explora o operário e acumula capital. Mais valia é o que o trabalhador produz a mais para o patrão, enriquecendo-o. Isso se dá porque o patrão nunca paga efetivamente pelas horas trabalhadas. Ao contrário, elabora jornadas de trabalho maiores que o que se paga de fato.
Desse modo, capitalistas do mundo todo enriquecem graças ao trabalho de operários que nunca são pagos como deveriam. A isso, Marx chamou de acumulação de capital. Para ele, a mais valia se dividia em duas: absoluta e relativa.
  • Mais valia absoluta é quando se aumenta as horas trabalhadas seja por contratação de mais funcionários, ou por ampliação das horas trabalhadas, como na hora extra.
  • Mais valia relativa se dá quando se introduz novas tecnologias e equipamentos para aumentar a produtividade, mantendo o mesmo número de trabalhadores e os mesmos salários.

Na visão marxista, conflitos entre patrões e empregados ocorrem quando os empregados se percebem explorados e miseráveis. Por essa linha de pensamento, pode-se compreender as greves, por exemplo. 


Acúmulo de capital, para Marx só é possível por causa da mais valia.

Para Émile Durkhein, no entanto, a crescente especialização do trabalho promovida pela indústria, trouxe uma forma superior de solidariedade entre os trabalhadores e não de conflito. Ele criou o conceito de solidariedade e o dividiu em dois: mecânica e orgânica.

  • Solidariedade mecânica  é quando os indivíduos sabem fazer quase tudo de que necessitam para viver. Neste caso, as pessoas se unem por crenças, tradições ou costumes.
  • Solidariedade orgânica é fruto da diversidade e não da identidade. Dessa maneira, as pessoas se unem por necessidade devido à divisão social do trabalho. 
Durkhein afirmava que na sociedade moderna a coesão se dá devido a crescente divisão do trabalho. Em sua linha de visão, os conflitos entre os trabalhadores e patrões no seculo XIX foi uma questão moral por causa da falta de anomia, ou seja, ausência ou insuficiência de leis e/ou regras. 
Quando a divisão do trabalho não produz solidariedade, é porque as relações entre os diversos setores da sociedade não estão bem regulamentadas.


Para Durkhein, as relações de trabalho são (em tese) compostas de solidariedade.

Convencimento do trabalho:

Nos posts anteriores, tenho discorrido a respeito do trabalho em sua dimensão estrutural, bem como sua evolução. Contudo, para chegar até a concepção contemporânea de que o trabalho é parte fundamental da vida do homem, não foi assim tão tranquilo quanto pode parecer.
Na sociedade em que vivemos (pós-moderna e capitalista) o trabalho é fundamental e o centro das preocupações do individuo, que desde a mais tenra idade se prepara, passando pelos bancos escolares e pela orientação de seus famíliares e amigos, na maioria das vezes.
O fato é que para se chegar a esse grau de maturidade, foi necessário convencer as pessoas de que trabalhar é preciso. Para isso, foi feito um grande esforço em várias áreas da vida humana, para convencer as pessoas do quao importante é. Isso se deu, porque até a Idade Média o trabalho não era a preocupação central do homem. A vida se dava de maneira muito mais coletiva que individual e essa mudança (como todas as que ocorrem historicamente) foi lenta e gradual, como acontece com a mentalidade humana de um modo geral.
Após a Idade Moderna, com a transição para o mundo contemporaneo, tendo ocorrido a Revoluçao Industrial, era preciso convencer as pessoas a trabalharem. Produzir era preciso para gerar lucratividade, objetivo maior do capitalismo. No quadro abaixo é possível compreender esse processo que envolveu muitas instituições:

Convencimento do trabalho
Igreja:
Governos:
Empresários:
Escolas:
Trabalho é um dom divino; a preguiça é um pecado.
Leis e decretos para punir quem não trabalhasse. Polícia para prender os vagabundos.
Disciplina rígida com horário de entrada e saída.
Passaram às crianças a ideia de que o trabalho é fundamental à sociedade.

Como se vê, esse processo é ideológico e foi amplamente difundido até ser totalmente incorporado pelo homem. Em nossa sociedade, trabalhar é tão natural quanto suprir as necessidades básicas da vida. Aquele que nao trabalha é mal visto.
Por ser o trabalho algo tão fundamental à manutenção do capitalismo, é evidente que despertou o interesse e o estudo de muitos estudiosos que tentam mensurar essa dinamica em suas teses e afins. Para Max Webber, por exemplo, o trabalho é fundamental para a existência do capitalismo. Se o trabalhador não produzir, passará fome. 
Passou pelo processo de convencimento do trabalho o fato de que era necessario ter um pouco de ócio para posteriormente, se dobrar a produtividade. Quando a Revolução Industrial atingiu seu ápice, ficou perceptível a necessidade de um dia para o descanso dos trabalhadores e também para a manutenção das máquinas, surge assim, no século XIX, a segunda-feira santa, dia em que se realizavam essas duas coisas. Talvez essa seja a explicação que nos leve a entender o porquê de trabalhadores do mundo inteiro detestarem o primeiro dia útil da semana.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As três etapas do trabalho:

O trabalho do homem é o que lhe garante sobrevivência e a transformação do mundo. Como se deu essa evolução? Na Antiguidade, a estrutura do trabalho era bem diferente daquela encontrada nos dias atuais. Analisando essa estrutura, fica perceptível a existência de três etapas que mostram justamente a evolução do processo produtivo, para entendermos essa relação no tempo em que vivemos.
Na tabala abaixo, onde se explicita as três etapas do trabalho, fica evidente a evolução do trabalho, que vem atravessando os séculos e se tornando cada vez mais essencial ao homem.

As etapas do trabalho:
1ª Etapa
  •   Algumas variações, poucas alterações.
  •          Desvalorização.
  •          Não era a preocupação central
  •          Casa e trabalho em um único local.

2ª Etapa
Cooperação
  1.         Simples: produção artesanal. Hierarquizada (mestre e aprendiz)
  2.           Avançada: (manufatura) origem do trabalhador coletivo.

  •    Antes: trabalhador realizava toda a produção.
  •           Depois: trabalhador perdeu a capacidade de produzir o todo. Realiza apenas parte da produção.

3ª Etapa
Maquinofatura:
As máquinas substituem os homens no processo de produção.

Para entender a tabela, vamos à análise da mesma. Na primeira etapa, o trabalho era realizado sempre sob os mesmos moldes, embora houvessem profissões diferentes, não se alterava o modo como o serviço era executado.
Havia uma grande desvalorização do trabalhador. Contudo, trabalhar não era a principal preocupação das pessoas que compunham a sociedade. Diferente dos dias de hoje em que as relações de trabalho são individuais (cada um possui a sua profissão) na Antiguidade e na Idade Média, o ritmo de vida era ditado pela coletividade, assim, se uma pessoa não trabalhasse, o grupo a sustentaria, sem problema algum.
A casa e o trabalho do homem medieval ocupava o mesmo espaço. Ou seja, no mesmo lugar onde se comia, dormia, etc, se trabalhava. Mestres e aprendizes tinham uma relação muito mais próxima do que a que se tem hoje profissionalmente. Dividiam as vidas e todas as suas implicações, inclusive.
O trabalho era realizado sob o regime de cooperação, onde um ajuda o outro na produção. Evidentemente, esse sistema passou por um aperfeiçoamento. Inicialmente, a produção era artesanal e havia uma hierarquia onde cada um tinha uma função (mestre e aprendiz), mas o objetivo comum era o de realizar a produção que se dava de maneira artesanal. Com o tempo, foram introduzidas as novas tecnologias. O trabalho passou a ser manufaturado. Ou seja, feito com as mãos, mas como o auxilio de certos instrumentos.
Ora, se no inicio o trabalhador sabia fazer o produto em todas as suas etapas, com o tempo foi perdendo essa capacidade e passando a produzir apenas uma parte deste. Faz a parte que se une ao todo apenas.
Na terceira etapa, a revolução industrial, o trabalhador é facilmente substituído pelas máquinas, são elas as grandes responsáveis pela otimização da produtividade, geradora dos lucros, busca incessante dos capitalistas. Com o avanço da tecnologia, os homens criaram ferramentas para auxiliá-los na produção. Porém, esse auxílio tirou-lhes os empregos.
Vivemos na terceira etapa do trabalho, na qual além de substituídos por máquinas, muitos de nós ainda nos tornamos escravos da tecnologia. Essas máquinas maravilhosas necessitam de operação e de pessoas que as mantenham sempre operantes. 
A ideia ao criá-las, era de sobrar mais tempo livre para o homem viver e desfrutar. Porém, o homem moderno tem tido cada vez menos tempo livre. 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O trabalho nas diferentes sociedades - das tribos à Idade Média:

Trabalhar para o homem contemporâneo é uma atividade que envolve uma teia complexa de relações. Terá sido sempre assim? É evidente que não. Para entender melhor essa relação, é preciso observar como ela se desenvolve ao longo da História. 
Nas sociedades tribais, todos sabiam fazer de tudo ou pelo menos cumprir com suas atribuições integralmente. Os bens comuns eram distribuídos em certos rituais. As divisões de tarefas se davam de acordo com o sexo e a idade da pessoa.
O antropólogo Marshall Sahlins, em seus estudos sobre as sociedades tribais, as classificava com sendo aqueles que se abrem a abundancia, tendo menos horas de dedicação ao trabalho do que nós, os homens "civilizados" do século XXI. Neste caso, o trabalho era realizado tendo um objetivo a ser cumprido e não uma meta de produtividade para gerar lucros.


Se nos direcionarmos a origem da palavra trabalho, veremos que seu significado vem do latim tripallium (instrumento de tortura medieval). Essa associação se dá por ser o trabalho uma atividade penosa e torturante para muitos.
Na Grécia e em Roma antigas, o trabalho usado provinha da escravidão. Mesmo os homens livres eram de alguma forma explorados. Para os gregos, especialmente, o trabalho era definido em três formas distintas, a saber: labor, poiesis e práxis. No quadro abaixo, essas definições ficam mais compreensíveis:

Definições gregas de trabalho:
Labor
Poiesis
Práxis
Esforço físico voltado para a sobrevivência do corpo. Atividade passiva e submissa.
Ato de fabricar, criar algo com um instrumento ou com as mãos.
Atividade de quem tem a palavra como principal instrumento.

A estrutura de trabalho medieval, se dava de forma piramidal, tendo na base a sustentação de toda a sociedade e no topo, quem mais se beneficiava com o trabalho de quem realmente empregava seu esforço. Na estrutura abaixo é possível verificar tal estrutura:



No decorrer da Idade Média, o trabalho era essencial para manter a estrutura da sociedade. Além dele, havia uma série de impostos e tributos,  que sustentavam quem se encontrava no topo da pirâmide, ou seja, o clero. Esses impostos também beneficiavam quem se concentrava na linha intermediaria, o senhor feudal, que distribuía seus bens para serem administrados por quem de fato trabalhava para manter toda a estrutura social: os servos e aldeões.

Impostos feudais:
Corvéia
Talha
Banalidade
Cultivo nas terras do senhor feudal.
Taxa sobre tudo o que se produzia.
Pagamento pelo uso de moinhos, fornos, tonéis, etc. (espécie de IPTU medieval)

Na Baixa Idade Média, haviam as corporações de oficio, espécie de associação de trabalho que surgiram no século XII, como forma de regulamentar o trabalho dos artesãos das cidades medievais,  Essa relação também se determinava de maneira piramidal:


Compreender o trabalho medieval é de suma importância, pois é ele quem determina a transição para o mundo moderno e, consequentemente, para o mundo contemporâneo. Na estrutura das corporações de oficio se fez a base para o renascimento. Chamava-se corporação de oficio, porque nessa estrutura se dava espaço para o desenvolvimento de um oficio apenas, transmitido as futuras gerações e aperfeiçoado ao longo do tempo. Os ofícios eram de: tecelão, padeiro, carpinteiro, pedreiro ou comerciante, por exemplo.
Nesse sistema, os trabalhadores residiam no mesmo local de trabalho. Para passar da condição de aprendiz para mestre, eram necessários 10 anos, no mínimo. O objetivo das corporações de ofício era garantir a qualidade, a quantidade e combater a concorrência desleal.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A importância da disciplina e do controle na sociedade - por Karoline Machado:

Baseada na temática da aula que inspirou o post "sociedade disciplinada e sociedade do controle", recentemente publicado, pedi aos alunos que escrevessem refletindo sobre o assunto. Disciplina e controle na sociedade, como o corpo discente visualiza tais coisas? Eis a produção que mais me chamou a atenção:

"Uma sociedade em que não há disciplina e também não há controle, acaba se tornando uma sociedade desorganizada, pois não existem regras e normas para serem seguidas, assim, tudo foge do controle e acaba se tornando uma desordem.
Em uma sociedade, é de extrema e indispensável importância que haja regras e normas para serem seguidas, pois isso faz com que a coletividade tenha obrigações a cumprir e torne-se algo organizado e controlado.
Esse controle e organização da sociedade faz com que as pessoas possam viver de uma maneira agradável, pois, assim, ninguém faz o que bem entender, de forma indisciplinada. Todos passam a agir de uma mesma maneira, de forma organizada.
Por mais que cada lugar possua uma disciplina diferenciada de outros lugares, quando se está perante da sociedade, é importante que haja apenas uma disciplina, para que haja um só comportamento para todos, algo controlado."

Karoline Machado é aluna do 2ºC da E.E. Charles de Gaulle no período da manhã e à tarde, cursa o ensino técnico em Contabilidade no Colégio Drummond - Campus Tatuapé - a aluna se diz uma apaixonada por matemática. Em sua reflexão, fica perceptível, que além dos números, ela tem pleno domínio das letras.

Indivíduo e sociedade: como se dá essa relação?

O indivíduo é fundamental para que haja a própria existência da sociedade. É ele quem protagoniza a História e desenvolve no mundo diversos acontecimentos, tecnologias, descobertas, implementando sua cultura e assim por diante. Ao trabalhar, o homem não apenas organiza a sua sobrevivência, como também estabelece relações sociais fundamentais que estão ligadas não apenas à produtividade, mas, a relacionamentos, afetividade entre outras inúmeras possibilidades.
A respeito do indivíduo e da sociedade, diversos pensadores desenvolveram e sistematizaram seu pensamento filosófico. Evidentemente, essas análises passam pelo mundo do trabalho. Vejamos alguns desses pensamentos:
Karl Marx, afirmava que a análise do indivíduo deveria se dar observando o contexto de sua situação sócio-econômica, ou seja, seu estilo de vida é determinado de acordo com sua situação financeira, que irá mostrar até como se dão suas relações interpessoais, por exemplo.
Para ele, a concepção de individuo isolado, surgiu com a sociedade capitalista. Antes disso, o homem (ou o indivíduo) era visto como membro de determinado grupo. A partir da sociedade de livre concorrência (capitalista), surge o mercado onde se compra e vende força de trabalho. Uma relação que era pra ser de igualdade, torna-se desigual, pois o patrão é quem acaba ditando as regras do jogo e obtendo vantagem.
Na visão de Émile Durkhein, a sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo, a consciência coletiva é quem dá sentido à integração entre os indivíduos. Em outras palavras, o autor diz que o que nos torna indivíduos é justamente a percepção de que vivemos coletivamente.
Durkhein, colocava a família, a escola e a justiça como base de sustentação para a permanência de elementos fundamentais na sociedade, como a moral, por exemplo. Em suas afirmações, dizia que as transformações sociais ocorrem de maneira lenta e gradual, sendo passadas de geração a geração. A Educação, tem a função de ensinar os costumes e regras. O individuo deve aprender o que fazer para nao ser punido
As prisões, na visão durkheiniana, afastam o indivíduo infrator para que este seja re-educado e assim possa voltar efetivamente para o convívio em sociedade. Em seus estudos, ele criou o conceito de anomia, que significa a ausência ou a insuficiência de normas. O pensador a considerava a geradora de conflitos sociais. 
O filósofo Max Webber, dizia que era possível compreender os indivíduos através de suas ações. Em sua teoria, a sociedade é o conjunto das ações dos indivíduos. A esse respeito, ele sistematizou o conjunto das ações da seguinte forma:

Ação Tradicional
Ação Afetiva
Ação Racional
 (valores)
Ação Racional (fins)
Costume arraigado, tradição familiar, automática, relação a estímulos variados.
Satisfação de desejos, necessidades, paixões, alegria, gozo, vingança, etc.
Convicções como dever, dignidade, beleza, sabedoria, piedade, etc.
Pensar antes de agir em determinada situação. Pesar e medir conseqüências.










No pensamento webberiano, normas e costumes são interiorizadas pelos indivíduos e não exteriores como dizia Émile Durkhein. O indivíduo ao longo de sua existencia vai guardando em si os valores que vai aprendendo ao longo da vida para utilizá-los na vida em sociedade.
Norbert Elias, concebeu um pensamento no qual refletia sobre a possibilidade de distanciar a sociedade dos indivíduos. Será possível de fato fazer essa diferenciação?
Para ele, essa relação é dinâmica e se configura entre os "eu", "eles" e os "nós". Em sua visão, não há separação entre individuo e sociedade, tudo está atrelado a um contexto. Sendo assim, ele chamava o conjunto social de sociedade dos indivíduos
Elias formulou o conceito de habitus, segundo o qual, como uma segunda natureza, o saber social seria incorporado em nossa vida social, registrando portanto, como o homem deveria portar-se nas mais diferentes esferas em sua vida coletiva. Esse conceito, mais tarde, foi incorporado por Pierre Bordier, que ampliou seu sentido. Se para Norbert Elias era algo que mudava de maneira lenta e gradual, para Bordier, era algo social e individual ao mesmo tempo, sendo ao mesmo tempo de grupo, de classe ou de indivíduo.