terça-feira, 19 de maio de 2015

Muitos quilômetros pelo saber: a saga de Laís Silva:

Para muitos estudantes, o sonho de cursar uma faculdade acompanha um desafio muito grande: depois de aprovado no vestibular, o estudante é admitido numa faculdade muito longe de casa. Para ser mais precisa: a quilômetros e quilômetros de distancia. O que fazer numa situação dessas? Não é uma decisão tão fácil. É preciso coragem acima de tudo, pois essa escolha envolve um afastamento (quase sempre temporário) dos amigos, da família e do cotidiano como um todo. Em troca, o universitário aprende muito mais que conteúdos, aprende a ser gente, vivencia uma experiencia que vai muito além dos bancos escolares e laboratórios. Nesse bate-papo, minha ex-aluna da E.E. Pe. Simon Switzar conta como está encarando sua nova realidade longe de sua casa em Poá, na Grande São Paulo.
Luana Ensina - Que curso você faz e em que faculdade? Diga ao leitor onde você estuda.

Laís Silva - Estou cursando Ciências Sociais- na UEMS - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul.


Luana Ensina - Fale da sua escolha e sobre o caminho que trilhou para alcançá-lo.
Laís Silva - Escolhi Ciências Sociais (curso que forma futuros sociólogos, antropólogos ou cientistas políticos) para tentar dialogar com o lugar onde eu moro - Poá, na Grande São Paulo - sendo professora quero de alguma forma estar ligada com os estudantes da escola pública, na qual estudei durante todo o ensino básico. Descobri a universidade pública através do movimento social negro (UNEAFRO) que trabalha com jovens das periferias e que possui um núcleo em Poá onde realiza cursinhos pré-vestibular.

Luana Ensina - Como é a experiência de estudar no Mato Grosso do Sul? Como fica a saudade de casa, dos amigos e etc?
Laís Silva - Hoje tenho a sensação que fiz uma das melhores escolhas que poderia ter feito aos 20 anos, quando vim para o MS vivenciar outra estilo de vida. O ritmo de vida do interior é uma das experiencias mais bonitas que estou vivendo. Minha expectativa era apenas sair de uma escola publica, nem sabia que poderia estudar em uma universidade pública, quanto mais, tão longe de casa! O que me deixa mais segura em estar aqui, é que isso foi uma conquista coletiva, graças àqueles que acreditam na juventude periférica e é essa conquista coletiva uma das bases para eu me manter aqui.E, principalmente, quando vejo a falta de mulheres negras dentro da universidade pública.É como uma injeção de ânimo e firmeza, para que eu fique aqui e prossiga nos estudos. Sem contar que estou em uma universidade considerada periférica, pois não esta localizada em grandes centros e isso também é uma forma de me segurar por aqui pra não morrer de saudade da quebrada! E quando a saudade vem, abro a janela e deixo que as araras passem por cima da dela.
Luana Ensina - Você ingressou na UEMS através de uma entidade chamada UNEAFRO, na qual você pode estudar para o vestibular, como funciona?
Laís Silva - A UNEAFRO é um movimento social, que trabalha com questões raciais e possui alguns núcleos, o cursinho pré-vestibular é a sua forma mais conhecida de atuação.
Luana Ensina - Só alunos negros podem participar?
Laís Silva - Não, a prioridade é para pessoas negras e pobres, mas qualquer pessoa que tenha interesse, pode participar, independente da classe ou raça.


Em 2007, Laís estava no Ensino Fundamental e tinha o sonho de fazer faculdade. Mas não imaginava que iria pra tão longe!


Em 2015, estudante da UEMS, engajada nos movimentos sociais universitários e adaptada a uma nova vida de estudos e luta no interior do Brasil.


Para saber mais:

  • A faculdade da Laís é a UEMS e ela estuda no Campus Paranaíba que fica a 410 km de Campo Grande (a capital do Estado). A cidade faz parte da Região Centro-Oeste do Brasil e fica próxima a divisa com o Estado de São Paulo, na Região Sudeste.
  • O curso da Laís é Ciências Sociais. Com essa formação ela pode se tornar socióloga, antropóloga ou cientista social - vai depender do ramo no qual ela irá optar por se especializar ao longo do curso.
  • Para se tornar professora, a Laís vai precisar fazer Licenciatura, o que vai garantir que ela possa ministrar aulas de Sociologia para o Ensino Médio.
  • Para conseguir sua vaga, Laís fez cursinho na UNEAFRO e prestou o ENEM.

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